Arte
Adolfo Ian Dolata esculturas

Ian Dolata: a nova estrela da escultura brasileira

Paulistano e autodidata, Ian Dolata utiliza materiais alternativos em suas obras e quer criar novos conceitos

Redes sociais são como uma “faca de dois gumes”. Pode não haver expressão mais clichê do que esta, mas trata-se de uma verdade incontestável. A timeline no Facebook pode ser um show de horrores na maioria das vezes, porém, surpresas pra lá de incríveis podem fazer valer o seu dia, quem sabe até o seu ano.

Foi o que aconteceu comigo. No ano passado, adicionei um querido amigo de juventude, o André Dolata, um engenheiro paulistano a quem eu não via há vários anos e que demorou a aderir ao Facebook (risos). Dia desses, ‘passeando’ pelo perfil dele, me deparei com diversas fotos de esculturas impactantes, incrivelmente expressivas e, na minha opinião, maravilhosas. Uma mais fantástica que a outra. Eram do Ian, filho mais velho dele que, como pai, compartilha todo orgulhoso o talento da ‘cria’ nas redes sociais. E bota talento nisso!

Não sou exatamente uma expert em artes plásticas, mas as esculturas do Ian são intrigantes. Elas dão a impressão de que, a qualquer momento, irão se mover. Expressam, por vezes, leveza, dor, indignação, alegria, força, coragem, liberdade, crítica ao sistema, enfim, ninguém sai indiferente depois de passar por uma escultura de Ian Dolata.

Fotos: Luan Mamed

 
Virei fã do trabalho dele e quero compartilhar com vocês esta entrevista, além das imagens de algumas de suas obras sensacionais. Ian Dolata é paulistano, tem 29 anos e estudou Design de Produto no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, onde se formou em 2010.

Papo com Cris – Como surgiu sua relação com a arte?

Ian Dolata – Desde pequeno era muito ativo, bagunceiro. A única coisa que me sossegava era desenhar. Eu passava o dia todo montando o forte apache, o castelo, passagem secreta para os bonequinhos, depois eu acabava nem brincando mais. Construía coisas com o Lego. Minha mãe queria me colocar numa escola pra eu poder desenvolver um trabalho artístico, mas ela não achava nada. Aí trouxemos do Rio para São Paulo uma franquia da escola de desenho do Daniel Azulay, um artista plástico carioca. Isso foi desenvolvendo meu lado artístico.

Isso te influenciou na escolha do curso de graduação?

Sim. Fui fazer design de produto no Centro Universitário Belas Artes, aqui em São Paulo. Eu gosto muito de criar, fazer projetos, inventar. Só que, quando você vai criar um móvel ou utensílio doméstico – uma cadeira de plástico, por exemplo – é um processo muito longo. Tem que ter aprovação de ergonomia, resistência, tem que investir milhares ou milhões de reais pra poder desenvolver uma simples cadeira. Eu queria criar, queria produzir. Eu já fazia algumas esculturas, desenhava bastante. Aí eu pensei em como realizar trabalhos que demandassem poucos dias ou semanas para executá-los. Então comecei a fazer as esculturas, algo que eu podia realizar sem precisar passar por um processo tão longo, que eu visse a minha realização, sem ter que fazer grandes investimentos e nem ter outros profissionais envolvidos.

Então, você foi estudar, ter aulas para aprender a esculpir?

Não, eu sou autodidata. Comecei trabalhando com argila, epóxi, e aí fui inventando e desenvolvendo minhas técnicas Às vezes, por meio de erro, eu descobria uma nova técnica, usando resinas, papel machê…

Como é o seu processo criativo?

Meu processo criativo tem algumas formas diferentes. Às vezes, eu encontro o objeto, observo, e me inspiro pra criar algo a partir dele. O objeto me dá uma diretriz para a criação. Esta é uma das minhas formas de concepção. Às vezes, eu crio um conceito, tenho uma ideia e, então, vou atrás do objeto que sirva para eu desenvolver este trabalho, seja uma estrutura, um detalhe. Eu muitas vezes improviso e transformo essas coisas. É um processo sem muitas regras, meio louco mesmo. Algumasvezes, eu faço um projeto e ele sai como eu planejei. Outras vezes, de forma meio orgânica, o trabalho vai criando sua própria cara.

Que materiais e ferramentas você costuma usar?

Como eu não tenho um ateliê ou um espaço próprio, eu tenho que me adaptar. No início, usava a caixa de ferramentas do meu pai, que tinha alicate, serrote, martelo, faca de cozinha, coisas bem básicas. Em função dessa limitação (falta do ateliê e das ferramentas apropriadas), eu fui criando soluções. Eu corria na rua por esporte e comecei a ver que pelo bairro as pessoas descartavam muitas coisas boas, não eram lixo. Temos uma cultura de descarte. Tudo é perecível. Comecei a pegar nas caçambas de obra materiais que seriam jogados e dava a eles novas funções. Minhas obras são feitas de materiais como argila, resina epóxi, arames, madeira, vidro quebrado, material de reúso, material de demolição…

Quem são suas influências artísticas?

Não diria que eu tenha muitas influências. Artisticamente, gosto bastante do estilo surrealista do Salvador Dalí, gosto bastante da história do Leonardo Da Vinci, de quem ele era como homem, projetista, artista. Não diria que eles me influenciam. Eu sempre evitei me deixar influenciar, quero criar coisas novas. Quero tentar algo sem influências. É claro que é impossível não ser influenciado por um trabalho que você vê. Meu objetivo é criar um conceito totalmente novo.

Quem é o seu público?

São pessoas que valorizam a cultura, que têm poder aquisitivo mais alto, que entendem o valor da arte que, aqui no Brasil, é difícil. Eu trabalho com esculturas únicas. Eu não replico as peças. Não é feito em série. O que é único é mais caro. Elas demoram semanas ou meses para ficarem prontas. Minhas esculturas têm a minha digital. Desde a estrutura até a pintura, é 100% feito por mim. É muito metódico, trabalhoso, detalhista.

Qual é o seu sonho?

Meu sonho é conseguir ter meu ateliê, meu estúdio, pra ter mais materiais, espaços e ferramentas. Com isso, vou desenvolver trabalhos melhores. Quero expor e quero que as pessoas conheçam meu trabalho, que ainda é muito escondido. São poucas pessoas que o conhecem. Não faço grande divulgação. Tenho uma certa aversão a burocracias e acabo me dedicando ao trabalho artístico e não vou atrás da divulgação, do marketing. Acredito que a partir do momento em que estiver inserido no mercado, vou conseguir fazer um trabalho mais elaborado.

Adolfo Ian Dolata esculturas

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Ian Dolata – esculturas
Facebook: facebook.com/adolfo.iandolata
Instagram: instagram.com/ian_dolata_art
Whatsapp: (11) 99270-0708

Veja as obras de Ian Dolata no Instagram: @ian_dolata_art


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