Norberto Chadad afirma que profissional multitarefa está no alvo das empresas
Por Norberto Chadad
Um médico atende um paciente portador de insuficiência respiratória. Examina, diagnostica, interna e aplica oxigênio. Prescreve um equipamento chamado CPAP, um aparelho portátil que promove a inalação de oxigênio para que o doente possa ir para casa. Com isso, considera que terminou o seu compromisso e cumpriu o seu papel. Será mesmo?
Um outro médico atende um paciente com o mesmo problema, seguindo o mesmo protocolo. Entretanto, no dia seguinte, verifica junto à assistente social se o pedido de concessão do aparelho foi encaminhado ao serviço público de saúde. Sabendo que não, telefona para o setor da prefeitura que cuida do assunto, explicando que a falta de um simples aparelho está causando a ocupação de um leito hospitalar que poderia ser utilizado por alguém com uma doença mais grave.
Não satisfeito, volta para a assistente social e diz o que fez, pedindo a ela que insista no processo. Na manhã seguinte, visita novamente o doente para acompanhar a sua evolução e cobra da assistente social a resposta. Ao fim de quatro dias o aparelho é entregue à família e o paciente recebe alta e volta para casa. Este médico, sim, cumpriu o seu papel.
Vamos transpor a situação para uma corporação empresarial qualquer. Nenhum líder se contenta com o profissional que apenas cumpre o protocolo, que apenas segue a rotina. O profissional que as empresas procuram é aquele que acompanha o processo, identifica entraves e obstáculos procurando resolvê-los. Se não conseguir, pede auxílio até que a questão seja solucionada. Este é um profissional multitarefa, que não se limita nem se restringe a cumprir ordens ou a fazer exclusivamente aquilo para o que foi contratado.
O profissional multitarefa tem algumas qualidades que deveriam ser típicas de qualquer profissional: proativo, prestativo, solidário, não tem preguiça, não é conformado e não foge dos problemas. Precisa estar antenado com novas práticas, novas tecnologias e novos sistemas que permitam atuar com agilidade e eficiência.
Mas, cuidado! Para ser um trabalhador multitarefa, o profissional precisa saber perfeitamente como fazer a gestão de seu tempo, sob pena de perder o foco da função e se intrometer na função alheia. Precisa também ser firme para impedir que a inércia dos colegas não lhe cause transtornos na execução da sua tarefa.
Consultamos uma pesquisa realizada pela professora e pesquisadora norte-americana Keri Stephens, cujo perfil pode ser visitado no site da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, que acompanhou 63 alunos da instituição onde leciona para concluir que as pessoas lidam com o trabalho de três maneiras bem distintas. Há quem só consiga fazer uma única atividade, os considerados monotarefa – para esses, pode ser interessante delegar tarefas específicas, como as relacionadas com a conferência de dados ou pesquisas que requerem concentração total. Já o maior grupo, segundo Keri, é formado por aqueles que conseguem fazer múltiplas tarefas, desde que seja uma de cada vez – são 45% do total, e o seu processo de trabalho é chamado de multitarefa sequencial. Destes, esperamos maior análise, planejamento e decisões estratégicas. Por fim, o grupo percentualmente mais reduzido, são aqueles que conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo, são os multitarefas simultâneos.
Conheço jornalistas que, dentro de uma redação, escrevem uma reportagem enquanto ouvem a transmissão do Jornal Nacional, verificam as atualizações da Internet e se mantêm antenados nas conversas ao seu redor. Presenciei também professores e palestrantes que, durante a apresentação, verificam o comportamento de cada um dos ouvintes, pesquisam dados em um notebook e fazem anotações.
É verdade que os profissionais multitarefas – sequenciais ou simultâneos – estão na mira dos recrutadores. E ser multitarefa não é questão de treinamento, mas de estilo. Há oportunidades para variados perfis em diferentes tipos de emprego e de empresa. O que não se pode fazer é fingir ser um profissional multitarefa se não existir tendência para isso. Ainda que você identifique seu perfil, é importante entender como reagir às demandas variadas ao longo da carreira. Cada tipo de profissional tem seu lugar no mercado de trabalho. Então, trate de se conhecer, insista, tente mais e faça o melhor que puder, seja qual for o seu estilo.
Sobre Norberto Chadad
Norberto Chadad é Engenheiro Metalurgista pela Universidade Mackenzie, Mestre em Alumínio pela Escola Politécnica, Economista pela FGV, Master em Business Administration pela Los Angeles University, CEO da Thomas Case & Associados e Fit RH Consulting, e tem “Paixão por Pessoas”.
Para saber mais sobre a pesquisa da drª Keri Stephens<, acesse o site da Universidade do Texas.
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