NOVOS TALENTOS #3: Luca Laurini afirma que “cozinhar é a melhor forma de transmitir sentimentos”
O paulistano Luca Laurini percebeu que seria um engenheiro medíocre se não tomasse uma atitude drástica, que desse sentido à sua vida: contra a vontade dos pais, largou o curso de engenharia mecânica na Universidade Federal de Ouro Preto (MG) para fazer gastronomia no Centro Universitário Senac, em Águas de São Pedro. “Eu precisava de paixão no que fazia, e a única coisa que me deixava tranquilo e feliz era estar na cozinha”, garante.
Hoje, aos 24 anos, ele sabe que fez a escolha certa. Formou-se em 2016, mora atualmente em São Carlos, e está empenhado na construção de uma carreira que, para ele, tem como missão fazer as pessoas felizes. A ele não faltam os ‘ingredientes’ necessários para essa ‘reiceita’ dar certo.
Papo com Cris – Você chegou a cursar engenharia mecânica na Universidade Federal de Outro Preto (MG), mas não concluiu. Quando percebeu que a gastronomia era, de fato, a sua paixão? Foi difícil fazer essa escolha? Teve apoio da família?
Luca Laurini – Eu sempre fui apaixonado pela cozinha, desde pequeno adorava passar tempo junto com a minha mãe e minhas avós na cozinha, sempre interessado por tudo. Porém, meus pais nunca aceitaram isso como uma profissão. Quando eu demonstrava interesse em me desenvolver nessa área, eles me diziam que eu ia ter que me matar de trabalhar e nunca ia ter dinheiro ou segurança na vida. Com o tempo, acabei deixando essa ideia de lado e me desanimando. Como eu tinha um interesse por carros e motores, meus pais me incentivaram muito a estudar engenharia mecânica. Nunca fiz muito esforço para entrar na faculdade, pois nunca me senti tão motivado, mas acabei passando na UFOP, em Ouro Preto (MG). No começo foi aquela euforia de ir morar sozinho, festas, independência e todo um mundo novo, mas, com o tempo isso passou. O curso me deixava entediado e eu não tinha vontade de me dedicar. Foi então que eu percebi que seria um engenheiro medíocre, que eu precisava de paixão no que fazia, e a única coisa que me deixava tranquilo e feliz era estar na cozinha.
O que fez diante desta constatação?
Resolvi largar a faculdade, depois de quase quatro anos e muitas mudanças. Decidi buscar a minha felicidade. Contei aos meus pais, que ficaram revoltados, foi difícil, eu disse que não precisava do apoio deles e que eu iria trabalhar e financiar meu curso se precisasse. Depois de algumas semanas, eles perceberam que eu estava levando aquilo a sério e disseram que iriam me ajudar. Com o tempo e muita dedicação, fui ganhando o respeito deles, e hoje eles sempre procuram me apoiar.
Quais são suas memórias de infância em relação à cozinha e às refeições em família?
Minhas melhores memórias de infância são dentro na cozinha ou sentado em volta de uma mesa, sendo fazendo frittatas com a nonna Rosa e o nonno Giorgio ou fazendo capeletti com toda a família na casa da vovó Carla. A comida sempre foi um momento de reunir as pessoas que eu mais amava. Neste momento não existiam brigas, problemas, diferenças, todos estávamos em um mesmo lugar para comer, conversar e dar risada. As refeições eram longas, costume típico dos italianos, muitos pratos, queijos, vinhos, sobremesa, café e grappa no final, e com o passar do tempo eu valorizo cada vez mais esses momentos.
O que mais o seduz na gastronomia?
Para mim, cozinhar é a melhor forma de transmitir sentimentos. Quando eu quero fazer alguém se sentir feliz, ou amado, eu cozinho. O melhor sentimento ao fazer isso é olhar nos olhos da pessoa que está comendo a sua comida e ver prazer, felicidade, ver um sorriso, é isso o que me faz amar a gastronomia.
Quais são os principais desafios da carreira neste momento, na sua opinião?
Sem dúvidas o principal desafio é a desvalorização do profissional e do alimento. Com a gastronomia em alta no mundo, o brasileiro está começando a notar a própria cultura e o próprio potencial, mas ainda é muito difícil de ser visto como um profissional qualificado. Os salários são muito baixos e as jornadas de trabalho são ridículas de tão longas, eu mesmo ainda não consegui um salário maior do que a mensalidade da minha faculdade. Mas, acima de tudo, precisamos valorizar o nosso alimento, garantir a sua qualidade e aprender sobre a sua procedência.
Como você se definiria como cozinheiro?
Sou uma pessoa que odeia a rotina, gosto de sempre estar fazendo algo novo, estudando, inventando pratos, mas sempre aprendendo e respeitando as tradições, antes de tudo.
O que mais lhe dá prazer na hora de cozinhar?
O maior prazer para mim é pensar na reação das pessoas com a minha comida enquanto cozinho, criar uma expectativa e, no final, ver em seus rostos um sorriso bem grande.
Quais são as suas especialidades na cozinha?
Com certeza é a cozinha italiana, que sempre esteve presente na minha vida e iniciou a paixão que tenho pela gastronomia, principalmente no preparo de massas, risotos e carnes.
Qual é o seu prato preferido?
Meu prato preferido se chama “pearà“, eu nunca vi ele em restaurantes no Brasil. As minhas avós me apresentaram a ele e me ensinaram a prepara-lo. Ele tem a textura de uma polenta mole, mas é feito com farinha de pão, tutano de boi, caldo de carne e bastante pimenta-do-reino, servido com uma salada de rabanete e codeguim, uma linguiça gorda de porco.
Na sua opinião, para onde caminha a gastronomia no Brasil?
Caminha para a frente, e para muito distante. Nós temos uma gastronomia riquíssima e com muito potencial, mas estamos aprendendo a valorizá-la agora. Acredito que, com o tempo, o Brasil se tornará um polo da gastronomia mundial
Quem são suas referências profissionais, os chefs nos quais você se espelha?
Hoje em dia estudo e acompanho muitos chefs que fazem trabalhos sensacionais, mas aqueles em quem eu mais me espelho no momento são Massimo Bottura, Jamie Oliver e Dan Barber.
Quais são seus planos para o futuro?
O meu maior sonho é ter um restaurante no qual eu possa plantar a maior parte dos meus insumos e passar para as pessoas todos os meus conhecimentos e valores. Não quero cozinhar comida italiana tradicional, mas sim transmitir a importância do alimento que a sua cultura possui. É ensinar o que os meus avós me ensinaram quando eu andava na horta do meu avô, colhia os ingredientes e depois ia cozinhar.
O que espera que as pessoas digam sobre o chef Luca Laurini daqui a 10 ou 20 anos?
Eu não espero ser famoso, ou ganhar prêmios, só espero ser conhecido por ser alguém feliz, realizado e que ama o que faz.
Chef Luca Laurini
Luca Laurini é formado em gastronomia pelo Senac de Águas de São Pedro e mora em São Carlos/SP.
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