Comportamento
Madrastas Instituto do Casal

Meu enteado vem morar comigo, e agora?

Segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre o Registro Civil, das mais de 1 milhão de uniões registradas, 23,6% foram de recasamentos. Os recasamentos são as uniões em que pelo menos um dos membros do casal já foi casado.

Naturalmente, a chance de o casal ter filhos das relações anteriores é grande. Assim, cada vez mais homens e mulheres assumem novos papéis dentro dos relacionamentos afetivos: o de madrasta ou o de padrasto. Além de precisar aprender a lidar com este novo papel, em muitos casos os filhos do outro casamento acabam indo morar junto com o novo casal.

Segundo a psicóloga Marina Simas de Lima, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, o recasamento representa uma nova etapa na vida familiar e provoca mudanças importantes no cotidiano e nas relações familiares.

“Essas transformações surgem dos novos papéis, regras e combinados que essa nova família terá. Porém, quando envolve filhos de relações anteriores, homens e mulheres são obrigados a exercer funções parentais com os enteados, antes ou ao mesmo tempo em que estão construindo sua identidade conjugal. Esse processo pode ser bem desafiador”, comenta Marina.

Para a psicóloga Denise Miranda de Figueiredo, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, alguns casais podem ter dificuldade para separar a relação com o ex parceiro da função parental. Além disso, nem todos estão preparados para compartilhar a parentalidade, ou seja, cuidar ou educar crianças que não são seus filhos, nos papéis de madrasta ou de padrasto. Quando a pessoa não tem filhos, isso pode ser ainda mais difícil.

Limites e combinados são importantes

Marina e Denise ressaltam que no início, o mais importante é que sejam feitos combinados e definidos limites. “Pais e mães devem sempre manter o papel de cuidadores e responsáveis principais pelos filhos. Porém, no dia a dia, é importante que madrastas e padrastos ofereçam apoio a esses cuidados, respeitando sempre os limites e regras impostos pelos pais”.

Ser madrasta é mais difícil?

Infelizmente, a sociedade criou um preconceito em relação ao papel da madrasta, presente até mesmo em histórias e contos infantis. Porém, cada situação é única e deve ser avaliada sob diferentes perspectivas. Em alguns casos, a mulher pode sentir ciúmes da criança, pode se sentir incomodada com o contato do marido com a ex mulher ou ainda se sentir sobrecarregada em relação a assumir um papel de cuidadora dessa criança”, comenta Marina.

“Claro que essa mesma situação pode acontecer com o homem no seu papel de padrasto. Entretanto, as dificuldades de ser madrasta podem ser maiores por conta da expectativa da sociedade em relação à mulher quanto ao instinto maternal. Além disso, em geral, as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos tendem a ser assumidos mais pela mulher do que pelo homem. Casais que conseguem equilibrar essas atividades ainda são exceção”, ressalta Denise.

Porém, lembra Marina, nem todas as mulheres nascem para ser mães ou têm essa vocação ou instinto. “Assim, quando esta mulher está em um casamento em que precisa assumir o papel de madrasta, será um processo bastante complexo e vai precisar de ajustes e combinados bem delimitados para dar certo. Ela também vai precisar do apoio do parceiro. O contrário também se aplica. Quando é o homem que não tem filhos, pode passar pelo mesmo desafio”.

Para o bem de todos

Para que a nova configuração familiar funcione de uma forma saudável, o ideal é que a transição seja feita de forma gradual e que se construam vínculos afetivos baseados no amor e no respeito. “Madrastas e padrastos podem ser uma importante fonte de apoio e suporte na criação e na educação das crianças e quanto mais os ex parceiros tiverem uma boa relação entre si, melhor será para o novo casal e para os filhos”, diz Denise.

“Outro ponto importante é que não existe divórcio dos filhos, ou seja, o casamento termina, mas os papéis de pai e mãe são para sempre e não devem ser delegados para os novos cônjuges. Em primeiro lugar para o bem-estar da criança ou adolescente e em segundo para o do casal”, reflete Marina.

“Por fim, se você decidiu se casar com alguém que já tem filhos de um relacionamento anterior, é preciso estar consciente de todos esses desafios e abrir-se para ajudar o (a) parceiro (a) dentro das suas possibilidades”, concluem as psicólogas.

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