Sobre influenciadores e influenciar
Por Cris Sanches
Sou do tempo em que as notícias nas redações dos jornais eram escritas numa máquina de escrever. Se sou velha? Acho que nem tanto… risos… O que aconteceu foi que a Era Digital chegou e o mundo passou por mudanças vertiginosas. As pessoas da minha geração tiveram que absorver, digerir e, na medida do possível, compreender que o mundo como nós o conhecemos vai se tornando uma “recordação”.
Mudanças quase sempre são assustadoras. Diante delas, temos duas alternativas: negá-las (e sofrer as consequências de nos tornarmos anacrônicos, fora do contexto e desconectados) ou nos adaptarmos a elas (com chance maior de nos encaixarmos neste novo mundo). Darwin disse que os sobreviventes não são os mais fortes, mas o que são mais capazes de se adaptar, lembra-se?
No mercado de trabalho da comunicação há mais de 30 anos, minha carreira tem sido uma sucessão de recomeços. São desafios que eu tenho enfrentado e que têm me tirado da zona de conforto. Aprendo todos os dias. Aliás, foi por isso que escolhi o jornalismo. Detesto fazer a mesma coisa por muito tempo e sentir que não tenho mais nada pra aprender.
Vamos agora ao cerne da questão. Antes do advento das redes sociais, o rol dos chamados “formadores de opinião” se restringia basicamente a artistas, atletas, alguns socialites (tipo Chiquinho Scarpa, lembra-se?) e profissionais da comunicação. Nós, jornalistas, sempre fomos convidados para os mais variados eventos, lançamentos de automóveis, viagens conhecidas como press trip e coisas do gênero. Isso porque nossa validação era considerada relevante para o mercado,
Acontece que, agora, as redes sociais deram espaço e voz a outras pessoas que, queiram alguns ou não, são capazes de influenciar o seu “nicho” por terem representatividade diante dele pelos mais diversos motivos (e não serei eu quem irá questionar). E o mercado, que não brinca em serviço, percebeu essa força para promover marcas e produtos. Hoje, um contingente incontável dos chamados “nanoinfluenciadores” (gente que tem de 1.000 a 10.000 seguidores) está sendo assediado por empresas que querem falar de forma mais direta com seu público-alvo.
Sim, tem gente de todo tipo nesse negócio, com ou sem formação em Comunicação, procurando dar seu recado. É tipo aquela amiga, vizinha, colega de trabalho que chega contando pra gente sobre uma promoção, uma novidade da loja X, uma comida saborosa no restaurante Y, um creme fabuloso que deixa a pele macia, e por aí vai. Só que agora eles contam isso pelas redes sociais e, de alguma forma, são remunerados. E aí você pode dizer: “Ah, é fácil indicar quando tem alguém pagando, né?”. Não para quem tem uma reputação pela qual zelar. Indicar algo que jamais usaria ou compraria seria mentir pros amigos . Isso pode deixar qualquer influenciador a um passo da extinção.
O comportamento pessoal é outro aspecto importante para quem é reconhecido como alguém capaz de influenciar os seus. É claro que há erros nessa jornada. Uns serão relevados, outros virão acompanhados de julgamentos e vereditos implacáveis, seja dos seguidores e/ou dos parceiros comerciais. De uma forma ou de outra, permanecerão na ativa os autênticos, os que desejam sempre aprender e melhorar, e os que têm algo realmente importante a dizer à sua tribo, seja ela com 1.000, 10 mil, 100 mil ou 1 milhão de seguidores. O mercado é um grande e competente filtro, tenha certeza.
Assim reafirmo: o marketing de influência existe, cresce exponencialmente e dá oportunidade pra muita gente defender seu ganha-pão, inclusive para colegas jornalistas. Desqualificar, satirizar e tentar fazer de conta que não existe (ou é uma questão menor) não fará com que ele acabe. E por que deveria acabar?
Todos os dias eu quero e posso aprender com este novo mundo. Também estou disposta a ensinar o pouco que sei. O que estiver fora desse contexto não me serve. Vou continuar a seguir os bons.