Por que estamos trocando pessoas por objetos, se os objetos se vão e as pessoas ficam?
Por Anna Lívia Pacífico
“Como ainda não descobrimos que não iremos ser mais felizes com a próxima compra? E por que será que continuamos a correr para acumular riquezas e nos distanciamos cada vez mais daqueles que são verdadeiramente uma das causas do nosso contentamento duradouro: aqueles que amamos?
Drª Susan Andrew
Quando me recordo das minhas amigas da adolescência, das rodas de conversas sem celular, do papo jogado fora na calçada de casa, lembro-me do quanto as outras pessoas importam, do quanto os nossos momentos felizes estão, certamente, rodeados de pessoas.
Agora eu desafio você: quando foi a última vez que gargalhou? Quando foi a última vez que você se sentiu muito orgulhoso de si? E quando foi a última vez que você se sentiu muito importante? Eu não sei quais foram as suas respostas, mas o que eu sei é que, em todos esses momentos, você estava com outras pessoas, não é verdade? É o que eu disse: os outros importam.
E quando falamos em relacionamentos, logo nos lembramos dos relacionamentos amorosos. E sempre que eles são lembrados, há quem diga: “como era bom no início”, “como eu tenho saudade daquele tempo”, “hoje, o relacionamento caiu na mesmice”.
O sentimento de algo que perdeu o encanto também acontece quando adquirimos um objeto novo, seja um carro, um celular, uma roupa. Poucos dias depois da compra, o encantamento e a euforia vão diminuindo e logo passa a ser apenas mais um objeto. E tão logo o vazio apareça, queremos um objeto mais novo, não é mesmo? Por que isso acontece? Para o psicólogo Daniel Gilbert, quando temos a mesma experiência repetidas vezes, acabamos por nos adaptar e isso gera menos prazer.
Quando os objetos deixam de ser novidade, vamos lá e logo adquirimos outro. E o que estamos fazendo com as pessoas quando elas já não são novidade? Eu ainda não vi anúncio de “vendem-se novos amigos”. Será que é por isso que estamos cada vez mais sozinhos, pois estamos esperando “comprar” um amigo novo?
Nesse mundo de múltiplas jornadas, estamos cada vez mais distantes e com a falsa ideia de que estamos mais perto. Há quanto tempo você não sai para conversar com o seu melhor amigo? Eu nem me lembro. E quando foi a última vez que você teve noticias dele por mensagem, ou viu uma foto? Ah, essa pergunta é mais fácil de ser respondida, não é mesmo? No mundo virtual, parece que somos íntimos das pessoas, pois estamos sempre vendo e lendo o que elas estão postando.
É dessa falsa presença que eu estou falando. E em casa, será que estamos nutrindo essa mesma falsa presença? Atualmente, quem são os nossos melhores amigos, os virtuais ou os que estão ao lado? O quanto estamos dispostos a dedicar um pouco de nós ao outro que está ao nosso lado? Em tempos corridos, ostentação mesmo é convidar alguém pra tomar um café e esquecer a hora passar.
Você sabia que os relacionamentos que cultivamos na vida nos trazem mais bem-estar do que a nossa renda? Pois é, isso ficou comprovado numa pesquisa realizada no Instituto de Educação da Universidade de Londres. Uma pessoa que ganha 3.300 libras e se encontra com amigos regularmente para conversar de forma despreocupada é mais feliz do que quem ganha 10 vezes mais, mas tem que sacrificar momentos de lazer.
Dedicar o seu tempo para alguém é o maior presente que você pode oferecer.
E eu desejo que você passe a dedicar o seu tempo mais a pessoas do que a objetos. Afinal, os objetos se vão e as pessoas são sempre o que fica.
Sobre Anna Lívia Pacífico
Anna Lívia Pacífico Barros Mota é psicóloga, master trainer em Psicologia Positiva, Terapeuta em EMDR. É proprietária da Pacífico Treinamentos.
Para saber mais sobre a psicóloga Anna Livia Pacifico, leia a entrevista publicada aqui no blog Papo com Cris.
Anna Lívia Pacífico – psicóloga
E-mail: livia.pacifico@outlook.com
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