Casamento ou enforcamento? Você escolhe o Início
Por Anna Lívia Pacífico
Ao sair do consultório, Jane mal podia esperar para chegar em casa e conversar com Marcos e refletir com ele todos os questionamentos que haviam surgido ao longo da sessão terapêutica. Antes de ir para casa, pensou: “Vou fazer algo diferente desta vez. Vou parar numa cafeteria, tomar um café e esperar meus ânimos se acalmarem, já que das outras vezes em que fui conversar, Marcos disse que eu não paro para escutá-lo. Vou dar um tempo por aqui, para estar mais calma quando chegar em casa e não jogar um turbilhão de questionamentos em cima dele”. Assim ela fez.
Marcos sabia que ela tinha ido à psicóloga e, ao vê-la chegando em casa, perguntou: “Como foi lá? Você gostou?” E ela respondeu: “Nem sei te dizer. O que eu sei é que muita coisa mudou dentro de mim. E é sobre algumas reflexões que eu tive lá que quero conversar com você”.
Jane continuou: “Acho que a primeira coisa que desejo conversar com você é: quero que você fale como tem se sentido quando eu digo que você tem que mudar. Você quer mudar?”, questionou. Marcos foi tomado por uma surpresa que o paralisou. Parecia que, naquele momento, ele ficara mudo. ”Nossa, Jane! Eu nunca parei para pensar sobre isso. Eu sempre sofri porque você exige algumas coisas de mim que eu não consigo, mas eu, sinceramente, nunca parei para pensar o que eu quero. Eu sei que muitas das coisas que você me pede, eu não consigo, mas fico angustiado por não conseguir”.
Parecia que aquela pergunta da psicóloga estava ressoando dentro de Jane: “Ele quer mudar?” E ela refletia: “Eu realmente nunca parei para perguntar o que ele quer, eu sempre achei que eu sabia o que é melhor pra ele. Que bobagem a minha, nem ele sabe o que quer, e quem eu sou para saber? Talvez, nem eu mesma saiba o que eu quero, pois estou neste relacionamento há tanto tempo, esperando algo que ele não tem pra me dar! Enquanto o meu foco está nele, eu vou seguindo também insatisfeita esperando que ele me dê, o que talvez eu também não tenha me dado”. Jane ficou pensando, mas não verbalizou.
“Cheguei a uma conclusão, Marcos: acho que precisamos rever o nosso relacionamento de uma maneira diferente das outras vezes em que tentamos. Em primeiro lugar, acho que temos que definir o que queremos. O que estamos buscando e esperando um do outro? Agora eu sei, não adianta adivinhar, é melhor perguntar”, ponderou Jane.
E continuou: “Quanto tempo se perde tentando adivinhar o que o outro está querendo… E quanta frustração com a qual tenho que lidar quando, depois de muito esforço, faço algo que não era o que ele estava esperando e ele olha pra mim e diz: “Você fez porque quis”. Quantas vezes tive que engolir seco isso, olhava pra ele e ainda o xingava: “Você é muito mal agradecido. Eu faço tudo por você e você ainda fala isso comigo”. Hoje, entendo. Talvez ele tenha razão. Eu fiz porque eu quis e não porque ele me pediu. Será que eu fazia isso tentando ser boazinha e querendo ser amada? Hoje fico pensando que, se eu tivesse perguntado o que ele queria, ele teria me falado, eu teria feito, teria agradado e pronto. É melhor perguntar do que adivinhar e correr o risco de se frustrar”.
Marcos olhava para Jane de forma diferente. Era um misto de sentimentos. Ora surpreso por suas reflexões, ora assustado (o que ela quer com essa conversa?), ora reflexivo (tudo o que ela fala, parece que também mexe comigo). Depois desse momento de reflexão, decidiram que pensariam primeiro sobre suas questões: o que estava bom na relação, o que estavam esperando um do outro, o que queriam a partir de agora. E juntos explorariam esse universo que é viver a dois, com objetivos comuns e com expectativas próprias e individuais. E saber ajustar tudo isso era a missão não só dela, mas dos dois agora. Reveriam crenças que pareciam ser intrínsecas à relação.
Ele chegou a falar: “Será que amar é sofrer? Será que estamos a todo momento criando dificuldades para que se confirme essa tese? Porque, por mais que seja desafiador, eu amo viver ao seu lado, mas parece que eu nunca consigo agradá-la, por mais que eu faça, você não consegue se sentir satisfeita porque está sempre focada no que não tem, no que eu posso fazer, no que eu preciso melhorar, e a cada passo que eu dou, você exige mais e mais de mim. E parece ser uma busca inesgotável.
Será que tudo isso é para justificar que casamento é um enforcamento? Será que acreditamos nisso a vida inteira e, por isso, fazemos tudo para gerar sofrimento? As pessoas que têm um casamento legal acreditam nisso ou escolheram acreditar em algo diferente?
Depois dessa conversa, eu realmente estou diferente. Você conseguiu me modificar com a sua mudança de pensamentos, atitudes e reflexões. Você, desta vez, cumpriu: essa foi uma conversa diferente”, afirmou Marcos. E prosseguiu: “Agora eu já sei por onde começar. Vou escolher o que eu quero acreditar ser um relacionamento: um enforcamento ou um casamento? Vou rever os acordos internos que fiz até hoje, quais são os ditados nos quais acredito e quais são as minhas atitudes diante disso. Uma coisa eu te garanto: eu já fiz minha opção, eu escolhi o início, quero o casamento e não a forca”.
Sobre Anna Lívia Pacífico
Anna Lívia Pacífico Barros Mota é psicóloga, master trainer em Psicologia Positiva, Terapeuta em EMDR. É proprietária da Pacífico Treinamentos.
Para saber mais sobre a psicóloga Anna Livia Pacifico, leia a entrevista publicada aqui no blog Papo com Cris.
Anna Lívia Pacífico – psicóloga
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