Por Anna Lívia Pacífico

Ao acordar pela manhã, Roberto abre a janela, dá uma boa espreguiçada, respira fundo e diz: “Que dia bonito. Obrigada pela oportunidade de viver mais um dia. Este será o dia mais feliz da minha vida”. E, assim, cria na sua tela mental toda a programação do seu dia, como se tivesse a certeza de que tudo irá correr bem. Depois disso, ele segue para a vida. Vai permitir que a sua mente execute o que já programou.

Do outro lado da cidade, Luciana acorda e, ao olhar para o celular, percebe que está alguns minutos atrasada. Ao se lembrar de tudo o que quer fazer ao longo do dia, fica com a sensação de que tem que correr para dar tempo de fazer tudo. Mal levantou da cama e a sensação de que o dia não começou bem ronda sua cabeça.

Quando penso no que consiste um dia feliz, chego à conclusão de que é, antes de tudo, a nossa escolha de fazê-lo feliz. É optar sobre como queremos enxergar as nossas escolhas e decidir o que fazer com elas. Nos dias em que eu não consigo enxergar a vida como gostaria, me lembro de uma frase que li, já faz um tempo, de Ramón de Campoamor (poeta e filósofo espanhol do final do século 19), e que até hoje me impacta: “No mundo nada é verdade ou mentira, tudo é de acordo com a cor da lente com que se mira”.

E quando essa frase vem a minha cabeça, dispara um alerta: há momentos em que, talvez, tudo o que eu mais precise é mudar a lente para que ela possa me ajudar a enxergar novos ângulos. E eu fico me perguntando: nos dias mais desafiantes, qual a sua escolha? Continuar olhando pela mesma lente e esperar que ela mude o 
ângulo? Ou assumir que “sou eu quem posso mudar a lente”?

Parece que, para algumas pessoas, a felicidade não é tão simples assim, pois justificam ter muitos fatores externos que atrapalham para alcançá-la. Até que ponto os fatores externos podem atrapalhar nossa felicidade? Frutos da cultura em que estamos inseridos, somos condicionados a buscar a felicidade do lado de fora, ou seja, a olhar para a felicidade como algo externo, como uma aquisição, e logo associamos isso a dinheiro, conquistas de bens materiais, sucesso e, desta forma, adiamos tanto para sermos felizes.

Quando descobrimos que a felicidade é muito mais interna do que externa, ela passa a ser nossa melhor companhia. E isso está comprovado cientificamente. Segundo a Psicologia Postiva, a nossa felicidade tem a seguinte composição: 50% estão relacionados com a genética; 40% dependem da forma como enxergamos a vida, o grau de satisfação que temos com ela; e apenas 10% estão relacionados com os fatores externos.

E qual é o maior segredo para se ter felicidade, mesmo quando o meio não está favorável? O segredo é que ela é muito mais interna do que externa e que só depende de mim tomar a decisão de ser feliz. Ao tomar a decisão de sermos felizes, saímos do ‘sofá confortável’ de vítima e assumimos a nossa responsabilidade de sermos autores da nossa própria história.

“Lívia, e aquelas pessoas que pensam que suas vidas são mais difíceis e, por isso, são infelizes? É possível mudar o cérebro delas para que passem a pensar de forma diferente?” A neurociência tem comprovado a neuroplasticidade do nosso cérebro, ou seja, a capacidade que ele tem de continuar se desenvolvendo e se modificando desde que seja estimulado. Para isso, temos muitas formas de fazer com que o nosso cérebro crie novos circuitos cerebrais positivos, e uma delas é trabalharmos a gratidão.

E por falar em gratidão, pense agora em três bençãos (acontecimentos simples), que aconteceram no dia de hoje, que fazem você se sentir grato. Pensou? Que tal se você fizesse isso todos os dias na hora de dormir por 21 dias? Aceita este desafio junto comigo? Talvez este seja o primeiro passo para criar um novo hábito de fazer o seu cérebro percorrer um novo circuito cerebral. Vamos praticando esse exercício e nos encontraremos daqui a 15 dias, combinado?

Sobre Anna Lívia Pacífico

Anna Lívia Pacífico Barros Mota é psicóloga, master trainer em Psicologia Positiva, Terapeuta em EMDR. É proprietária da Pacífico Treinamentos.

Para saber mais sobre a psicóloga Anna Livia Pacifico, leia a entrevista publicada aqui no blog Papo com Cris.

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