ARMADILHAS NO CAMINHO DOS ATLETAS DE VERÃO
Américo Tângari Junior
Os dias frios de inverno não convidam nem um pouco a uma caminhada pelas ruas ou parques da cidade Não sobra ânimo nem para a esticada habitual à academia. Em certas ocasiões, as temperaturas permanecem abaixo dos 10 graus no Sul e Sudeste do País. Pior pela manhã, herdeira de uma madrugada tiritante de gelada, próxima do zero. A tendência é comer e beber em demasia.
Mas agora estamos na primavera, o sol aparece com maior frequência e a temperatura sobe. E muita gente, que passou o inverno hibernando como as formigas da fábula de La Fontaine, se sente na obrigação de recuperar o tempo perdido, sair em correria pelas ruas e parques da cidade e voltar a mil aos exercícios na academia.
Quer, enfim, perder em pouco tempo os quilinhos a mais adquiridos no inverno e daí se transforma em atleta de verão. Calma, não convém ir com muita sede ao pote; além do mais, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Sair em disparada depois de algum tempo parado não é um caminho saudável, pois qualquer tranco no organismo pode redundar num mal.
Para começar, o bom senso há de pautar a conduta. Se você é um corredor habitual ou pratica exercícios há tempos, já sabe como se cuidar e tomar as devidas precauções, como o acompanhamento médico. Ressalte-se que a prática de exercícios físicos é sempre recomendável. Ao mesmo tempo não se pode esquecer que cada indivíduo tem suas limitações e é importante conhecê-las para não se exceder.
Por exemplo: se uma pessoa está apenas com a consciência pesada pelo muito que comeu e quer compensar com algum exercício físico, cuidado. Deve se preparar para começar do zero, pois essa história de atleta de verão não combina com boa saúde – é conversa mole pra boi dormir.
Antes de tudo, é necessário acostumar o coração, o pulmão e o aparelho locomotor num trabalho gradativo, que requer acompanhamento profissional constante. Depois, seu histórico clínico deve ser atualizado com novos exames para evitar surpresas.
Para quem não pratica nenhuma atividade, ou o faz esporadicamente, o cuidado deve ser redobrado. Certifique-se de que a máquina se encontra em bom estado de conservação. Procure um médico e faça os exames para não entrar nesta triste estatística: as doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 30% das mortes no Brasil, entre elas AVC`s, hipertensão, ataque cardíaco, aterosclerose e outras.
A maioria resulta de um estilo de vida inapropriado e entre os principais fatores que ocasionam estas doenças estão má alimentação, tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade, além do estresse do dia-a-dia. Convém ficar atento aos sintomas que se manifestam em quase todas as doenças do coração ou que podem indicar algum tipo de comprometimento cardíaco:
— Falta de ar, ao repouso ou ao esforço; dor no peito, em virtude de má circulação sanguínea no local; cansaço fácil; desmaio, após atividade física intensa; palpitações ou taquicardia; tosse seca persistente; pressão alta; cor azulada nas pontas dos dedos ou unhas; tonturas; varizes; má circulação nas pernas; impotência sexual; inchaço nos tornozelos.
Alguns sintomas podem ser confundidos com um simples mal-estar. Sudorese, tremores e falta de ar estão entre os tipos de manifestação que o organismo também utiliza como sinal de princípio de infarto agudo do miocárdio.
Saiba que o maior pecado é o desleixo com a prevenção: ignorar os exames periódicos, como o de sangue e o eletrocardiograma, que permitem ao clínico avaliar os fatores de risco e o histórico de cada pessoa. Como um automóvel, o motor humano, depois de muita quilometragem, carece de prevenção e revisão.
Enfim, os dias mais quentes da primavera precedem o verão. Nessa época do ano, as academias de ginástica registram aumento de 30% nas matrículas e as ruas e parques da cidade voltam a ficar apinhadas de corredores habituais e também os fortuitos.
Que todos tenham uma jornada de boa saúde.
Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.